A Era dos Dispositivos Inteligentes – IA.

Novos dispositivos tentam substituir muitas funções dos smartphones, levantando dúvidas sobre como se integrarão ao ecossistema móvel.

Depois do boom da inteligência artificial (IA) em ferramentas online, agora estamos entrando na era dos dispositivos com IA. Desde o início do ano, muitos dispositivos foram lançados e alguns chamaram bastante a atenção dos “early adopters”, como o AI Pin, Rabbit R1, os óculos inteligentes da Brilliant Labs e o Ray-Ban Meta.

Além desses novos gadgets, temos produtos que já fazem parte do nosso dia a dia, como os smartphones Samsung Galaxy AI e os novos computadores Copilot+PC da Microsoft, lançados no mês passado. Enquanto os dois últimos possuem funções mais abrangentes e conhecidas, os novos gadgets estão criando uma nova onda de dispositivos que tentam substituir boa parte das funções dos nossos celulares.

Não quero fazer uma crítica aprofundada desses produtos e sua viabilidade, já que não experimentei nenhum deles e não estou interessado em comprar no momento. Confesso que quase comprei o Rabbit, porque achei ele extremamente fofo, mas só isso. Ele tem o apelo de design dos outros produtos da Teenage Engineering, conhecida como a “Apple da GenZ” e que tem uma série de produtos incríveis.

O interessante desses novos produtos é que eles provocam o mercado, mais pela sua existência do que por suas funcionalidades. Eles sugerem que nossos smartphones podem ser bem diferentes do que são hoje.

Esses dispositivos focam na experiência e na interação baseada em IA, trazendo um frescor para o design de produtos. Diferente dos celulares atuais, onde usamos diversos aplicativos com inteligência artificial, esses novos dispositivos colocam a IA no centro de toda a experiência, em tudo que fazemos e acessamos.

Para explicar melhor, hoje usamos vários programas e aplicativos com funções específicas: um para fazer listas, outro para organizar tarefas, uma agenda para distribuir compromissos ao longo do tempo, e assim por diante. Muitas vezes, esses aplicativos não se comunicam bem, e temos que transferir informações de um para o outro.

Mercado

Recentemente, a Humane, empresa responsável pelo AI Pin, anunciou um problema sério nas baterias do estojo de carregamento, oferecendo apenas dois meses de assinatura gratuita como compensação, sem maiores explicações. Isso mostra que esses novos produtos ainda estão longe de competir com os smartphones.

Esses dispositivos não são produtos acabados. Para que startups como a Humane possam competir com grandes empresas como a Apple, é essencial que esses dispositivos sejam amplamente testados. Eles precisam ser acessíveis e contar com uma comunidade ativa que forneça feedback e ajude no desenvolvimento.

Começar um negócio com aparelhos caros não é viável. O AI Pin custa US$ 700 mais uma assinatura mensal de US$ 24, e o Rabbit custa US$ 199. É como vender um protótipo inacabado pelo preço de um iPhone.

Outro ponto importante é que, como hardware é mais caro que software, as pessoas precisam de um motivo claro para comprar. Com gadgets de inteligência artificial, não podemos nos basear apenas em promessas e vídeos bem editados. Precisamos focar no que esses produtos realmente entregam, e não em futuras atualizações.

Sam Altman, CEO da OpenAI, disse que os agentes de inteligência artificial podem se tornar a principal função da IA, e que isso não necessariamente exige novos dispositivos. Pode ser um aplicativo funcionando na nuvem, apesar de Altman ser um dos investidores da Humane.

Eu acredito que os smartphones podem ser revolucionados, embora isso possa levar tempo. A inteligência artificial evolui rapidamente, mas ela existe desde a década de 1950, o que mostra uma maturidade que os smartphones também têm. No entanto, isso não significa que eles serão nossos principais dispositivos para sempre.

Decepção e telas

E tudo isso, que parece um sonho, está bem próximo da realidade. Apesar de todos os reviews criticarem categoricamente a funcionalidade desses dispositivo, principalmente o AI Pin e o Rabbit, afinal, eles não funcionam muito bem mesmo, alguém tinha que dar o primeiro passo. Acho que, nesse caso, eles poderiam ter sido anunciados mais como protótipos, e não produtos acabados, e principalmente serem vendidos a preços que condizem com a realidade.

Outra coisa que também deixou a desejar é que tudo que eles conseguem executar está longe das promessas do que um LAM é capaz de fazer, além de serem lerdos e terem bugs muito chatos. Mas o principal argumento contra todos esses dispositivos de IA até agora é que os smartphones existem e, diante do que é possível fazer, eles já fazem muito melhor. Mesmo diante desse cenário, a principal pergunta a se fazer no momento é: pra onde está indo a evolução dos smartphones em si?

Não sei você, mas eu estou exausta de telas. Eu tento usar o celular o mínimo possível, porque já fico com os olhos na tela do computador o tempo todo. Quando saio, muitas vezes nem levo meu celular e ando apenas com meu smartwatch, que tem tudo que mais preciso: Whatsapp, faz ligação e pagamentos, posso ouvir música, gravar áudios, descobrir músicas, fazer anotações, ver agenda e e-mails.

A única coisa que sinto falta é não poder tirar foto ou gravar um vídeo. Mas olha só que bacana. Se eu tivesse um Ray-Ban Meta, poderia adicionar minhas lentes com grau, ter a câmera e continuar com os apps do relógio. Se o relógio funcionasse completamente a partir dos meus comandos de voz, principalmente transcrever meus áudios em mensagens, já estaria bem mais tranquila e certamente usaria meu smartphone como um “celular fixo”, apenas em casa pra dar uma olhadinha de leve em redes sociais.

Outro ponto importante a ser pensado é que, de tanto usarmos o celular durante o nosso dia, a gente mal percebe o quanto de fricção, de contato, que ele demanda dos nossos olhos e mãos. Pra quem vive em grandes cidades, não dá pra ficar com celular na mão, a não ser que você queira se desfazer dele rapidinho. Eu sempre dou um jeito bizarro de esconder e deixar ele o mais inacessível possível. Só uso se estiver dentro de locais confiáveis.

Só a fricção de tirar ele do esconderijo, desbloquear com digital e senha longa (sim, tenho os dois), procurar o aplicativo de mensagens, desbloquear ele também, procurar a mensagem no meio de várias, escrever e enviar… nossa, é um rolê. Adoraria só dizer, andando em qualquer lugar, “diga que sim para X e que o encontro em 20 minutos”, sem ter que tocar e olhar pra nada.

Isso ainda não é possível, mas o que vimos no filme “Her” não está tão longe assim, e o mercado de wearables, esses dispositivos vestíveis, está mais quente do que nunca.

As IAs alucinam, erram, podem não nos conhecer por completo e todo esse processo pode ter outro tipo de fricção. De qualquer forma, antes de um dispositivo de substituição do celular, podemos pensar em como esses novos dispositivos podem se integrar ao ecossistema dos nossos smartphones, assim como aconteceu com fones de ouvido e smartwatches.

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